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Mas zombamos de um avarento quando ele é ciumento do seu tesouro, isto é, quando o devora com os olhos e nunca quer afastar-se dele, com medo que ele lhe seja furtado; pois o dinheiro não vale o trabalho de ser guardado com tanto cuidado. E desprezamos um homem que é ciumento de sua mulher, pois isso é uma prova de que não a ama da maneira certa e tem má opinião de si ou dela. Digo que ele não a ama da maneira certa porque se lhe tivesse um amor verdadeiro não teria a menor inclinação para desconfiar dela. Mas não é à mulher propriamente que ama: é somente ao bem que ele imagina consistir em ser o único a ter a posse dela; e não temeria perder esse bem se não julgasse que é indigno dele, ou então que a sua mulher é infiel. De resto, essa paixão refere-se apenas às suspeitas e às desconfianças; pois tentar evitar algum mal quando se tem motivo justo para temê-lo não é propriamente ter ciúmes.
René Descartes, in 'As Paixões da Alma'
1 comments:
Gostei imenso da definição de Descartes. A verdade é que no Amor também existe a necessidade do ciúme. Desde que não seja um ciúme exarcebado ou obsecado penso que seja algo que alimenta um relacionamento e deita mais achas na fogueira da paixão.
Segundo ainda Descartes poderíamos ver os duelos orginados pelas injúrias de determinado individuo à dama de um cavaleiro. Esse duelo estendia-se até à morte, pela honra da donzela. Isto porque havia sempre pelo menos um que considerava sua a donzela. E desonrar aquilo que eles sentiam que era deles era motivo de duelo.
Actualmente vivemos noutro tipo de duelos com outros interesses. :S
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