Orquídeas Garden

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Não sabia como descrever o que pretendia com este blog. Contudo, com a simplicidade das suas palavras, alguém o conseguiu: «Ninguém é obrigado a partilhar sentimentos... pensamentos, emoções... chamar a atenção para a vida, para o que é importante ou não... nem tem de nos orientar, ou tentar mostrar-nos outras perspectivas da vida... Mas há quem fale de si e dos seus sentimentos... e das suas perspectivas da vida... Então aproveite quem quiser...»(O Último Padrinho)

Os Vários Tipos de Amor, seg. Descartes


Parece-me que podemos, com maior razão, distinguir o amor em função da estima que temos pelo que amamos, em comparação com nós mesmos. Pois quando estimamos o objecto do nosso amor menos que a nós mesmos, temos por ele apenas uma simples afeição; quando o estimamos tanto quanto a nós mesmos, a isso se chama amizade; e quando o estimamos mais, a paixão que temos pode ser denominada como devoção. Assim, podemos ter afeição por uma flor, por um pássaro, por um cavalo; porém, a menos que o nosso espírito seja muito desajustado, apenas por seres humanos podemos ter amizade. E de tal maneira eles são objecto dessa paixão que não há homem tão imperfeito que não possamos ter por ele uma amizade muito perfeita, quando pensamos que somos amados por ele e quando temos a alma verdadeiramente nobre e generosa.
Quanto à devoção, o seu principal objecto é sem dúvida a soberana divindade, da qual não poderíamos deixar de ser devotos quando a conhecemos como se deve conhecer. Mas também podemos ter devoção pelo nosso príncipe, pelo nosso país, pela nossa cidade, e mesmo por um homem particular quando o estimamos muito mais que a nós mesmos. Ora, a diferença que há entre esses três tipos de amor manifesta-se principalmente pelos seus efeitos; pois, como em todos nos consideramos juntos e unidos à coisa amada, estamos sempre dispostos a abandonar a menor parte do todo que compomos com ela, para conservar a outra.
Isto leva-nos, na simples afeição, a sempre nos preferirmos ao que amamos; e, na devoção, ao contrário, a preferirmos a coisa amada e não a nós mesmos, de tal forma que não hesitamos em morrer para a conservar. Frequentemente se viram exemplos disso, nos que se expuseram à morte certa para defender o seu príncipe ou a sua cidade, e mesmo às vezes pessoas particulares às quais se tinham devotado por inteiro.

René Descartes, in "As Paixões da Alma"

3 comments:

O Último Padrinho disse...

É uma perspectiva do amor bastante interessante... E dá que pensar! Já se soube de pais (inclui a mãe) que deram a vida pelos filhos (aliás, na natureza, está sempre a ocorrer - principalmente a mãe) mas será isso amor de devoção? Só se pode assegurar a luta pela vida de alguém se quem protege se mantiver vivo. E assim, a devoção ao estilo "Bodyguard" parece mais uma doença!

Orquídea disse...

Concordo.
Este texto tem-me dado muito que pensar. Muitas são já as teorias e as "filosofias" que teci acerca dele e no entanto ainda não cheguei a nada concreto. Principalmente porque tenho as minhas reservas no que diz respeito ao "amor amizade" e ao "amor devoção" aqui considerados.

Seja como for, o texto está a cumprir a sua função: "dar que pensar"!

Anónimo disse...

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